domingo, 2 de julho de 2017

Os conceitos gerais e fundamentais do jogo de posição/posicional

Umas das coisas mais debatidas no meio da análise de jogo vem sendo o jogo posicional. O que é finalmente o jogo de posição? É , basicamente, uma ideia-mãe que rege todo o jogo de uma equipe. Contudo, é sempre bom lembrar que conforme as ideias de cada treinador que o utiliza como ideia-mãe, alguns conceitos podem ou não ser inseridos e outros retirados ou apenas cair em importância. Por exemplo, uma coisa é o modelo de jogo de posição do Josep Guardiola e outra coisa é o de Thomas Tuchel. É a mesma coisa, só que diferente. Porém, existem conceitos gerais/fundamentais presentes em todos os modelos de jogo de posição, ou seja, aqueles primordiais pra existência ou não do mesmo, tudo aquilo que é "obrigatório" dentro desse jogar. Vou citar 10, vamos a eles:

 1 = Gerar superioridade numérica e, principalmente, posicional desde lá de trás, desde o goleiro. Gerando um efeito-dominó de vantagens. 

2 = Gerar e ativar homens livres nas costas das linhas de pressão. Jogadores fora do campo visual da linha rival que pressiona o companheiro com a bola, distantes da oposição e girados ou prestes a girar, facilitando a recepção orientada. Ou seja, com grande probabilidade de gerar novas coisas e fazer o time progredir no terreno, superando linhas de pressão. Podem ser gerados de diversas formas, entre elas:

- Através de falsos movimentos de desmarques de apoio ou ruptura, ou seja, aqueles movimentos em que a intenção não é a recepção própria, mas sim de arrastar rivais e habilitar companheiros.

- Fixações horizontais (amplitude) e verticais (profundidade interior)

- Conduções para atrair rivais e liberar companheiros desde lá de trás, desde a 1a fase de construção

3 = Amplitude é primordial, seja com centrais, laterais ou com extremos. Uma boa amplitude e profundidade exterior ajuda a abrir a estrutura defensiva rival, ao fixar rivais na banda e ampliar os intervalos entre os jogadores de uma mesma linha, gerando espaços interiores e, consequentemente, homens livres. 

4 = Formação de triângulos e losangos/rombos de passe, primordiais para a progressão no terreno de jogo de forma apoiada. 

5 = Conceito de terceiro homem (tercer hombre). Quando um jogador com a bola busca ativar companheiros pretendidos - com linha de passe fechada por um rival - de forma "indireta", ou seja, utilizando-se do apoio de outro companheiro (que geralmente deixa de cara para abrir) para aí sim ativar o companheiro pretendido (3o homem) de frente pro jogo e com melhores condições de fazer o time progredir. 

6 = Escalonamento ofensivo é primordial. E esse conceito desconhecido pela maioria passa basicamente pela ocupação de diferentes alturas, distâncias e eixos por parte dos jogadores. Ou seja, jogadores devem ficar espalhados por todo o campo, uns mais próximos e outros mais distantes (sendo de fundamental importância para estes respeitarem a posição, saberem jogar sem intervir diretamente na região da bola e com a certeza de que a bola chegará em algum momento), facilitando assim a formação de triângulos e losangos e, consequentemente, a conexão com o terceiro homem e o homem livre. É assim que se consegue uma ocupação racional dos espaços. 

7= É de fundamental importância os jogadores entenderem o quando passar e o quando conduzir, o quando tocar e passar (toco y me voy) e o quando tocar e ficar (toco y me quedo). No Barcelona, por exemplo, é uma das maiores dificuldades das novas contratações e uma das coisas mais trabalhadas na La Masia (categorias de base do Barça, uma fábrica de craques, o que não é por acaso).

8 = É de fundamental importância utilizar a posse de bola como uma ferramenta de isca pra mover o rival: juntando companheiros no lado forte, somando passes, atraindo rivais para um lado ou para o centro e castigando-os no lado fraco (ativando jogadores desequilibrantes em situações de 1x1 na banda), nas zonas livres de oposição. Ou seja, a posse como uma ferramenta para desestabilizar/desordenar o rival e, portanto, ordenar a sua própria equipe, fazendo-os jogarem a mercê da própria equipe e não como eles desejam. Criar um caos defensivo no rival! 

9 = É de fundamental importância a equipe se comportar como uma unidade, ou seja, o conceito de viajar juntos: a equipe, os jogadores, a bola e AS POSIÇÕES. 

10 = Como consequência do conceito anterior (é um efeito-dominó de conceitos, onde um vai fazendo o outro acontecer), nota-se a importância da pressão pós-perda no jogo de posição. Afinal, todo treinador que utiliza o jogo de posição pensa que a melhor forma de se defender é atacando. Para isso, é imprescindível pressionar e recuperar a bola nos microsegundos imediatamente posteriores à perda da bola, algo que se torna mais fácil com o jogo de posição, já que todos viajam juntos, e quando perdem a pelota, a equipe se encontrará junta, podendo realizar um pressing pós-perda mais eficiente, matando contra-ataques rivais desde a raiz e roubando, muitas vezes, no campo inimigo, ou seja, próximo do gol.

Com tudo isso, fica claro que o tiki-taka até existe, mas que não tem nada a ver com o jogo de posição de Guardiola (que odeia esse termo tão vinculado a ele) e de todos os outros que o utilizam. Tiki-taka é passar por passar, sem nenhum objetivo por trás. Já no jogo de posição, as equipes tocam pra eliminar rivais, superar linhas de pressão, movê-los, encontrar homens livres nas costas de quem pressiona até fazer o gol. Tudo fruto de uma metodologia de treinamento global, não apenas por achar bonito, não é algo romântico, eles utilizam o jogo de posição porque acreditam que é a melhor forma de vencer.

Por: José Victor de Lima Soares (@josevitor83)
Contato: 81995753049

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