segunda-feira, 27 de julho de 2015

Brasil de Micale no Pan foi intenso, movediço e, principalmente, coletivo - mas não foi tão moderno


5 jogos, 15 gols marcados, 7 gols sofridos, 3 vitórias, 1 empate, 1 derrota e uma medalha de bronze: a campanha da seleção brasileira de futebol masculino nos Jogos Pan-Americanos de 2015, não foi ruim e nem foi boa, faltou a regularidade que era necessária para conquistar o ouro, que não vem desde do Pan de 1987. Rogério Micale é um ótimo técnico, com conceitos modernos de jogo, mas não é por acaso, ele estudou e buscou conhecimento, entretanto, precisa de tempo, como qualquer outro, para implantar e aplicar a sua filosofia de jogo. Adepto de um futebol ofensivo, movediço, intenso, compacto, vertical e que, prioriza, o trabalho coletivo - que favorece o talento individual e vice-versa. "O futebol bem jogado'', tão citado por Micale em entrevistas. 

O sistema tático-base da equipe no Pan foi o 4-2-3-1, com Barreto e Eurico à frente da linha defensiva, e por trás de uma linha intermediária de ataque formada por Luciano pelo flanco direito, Rômulo pela faixa central e Clayton à esquerda, com Dodô como um falso-9 à frente. 

O posicionamento inicial do Brasil, em todas partidas, foi o 4-2-3-1, com variação constante para o 4-4-2 na fase defensiva.

Sem a bola, a seleção verde-amarela alternou entre executar a marcação pressão na saída de bola do adversário com o quarteto ofensivo e/ou se fechar com duas linhas de quatro bem compactas, com Rômulo e Dodô à frente. Na imagem a seguir, pode-se observar o quarteto ofensivo brasileiro pressionando intensamente a saída de bola do adversário, conceito que foi utilizado em vários momentos durante a competição, com o objetivo de roubar a bola próximo do gol e/ou forçar o chutão para o campo de ataque - como no lance abaixo.

Reprodução: Rede Record


No flagrante tático abaixo, pode-se observar os 10 jogadores de linha do Brasil no campo de defesa, 8 deles formando duas linhas de quatro bem compactas, com Rômulo e Dodô à frente da segunda linha. Na seleção de Micale, todos jogam sem a bola, facilitando o trabalho de encurtar e/ou tirar os espaços do adversário. Na mesma imagem, é possível observar dois pontos, um positivo e um negativo, da seleção brasileira durante a competição: o positivo, executando o balanço defensivo - movimento das linhas de um lado para o outro conforme a circulação da bola, um conceito essencial para executar a marcação por zona com primazia - a seleção criou superioridade numérica no setor onde a bola está, no lance abaixo, a bola estava no centro do campo, são 10 jogadores brasileiros contra 7 canadenses no campo de defesa do Brasil, 2 brasileiros cercam o portador da bola para fechar as linhas de passe; o negativo, é a defesa em linha alta e/ou baixa, a maioria dos 7 gols sofridos pela seleção canarinho foram originados após uma enfiada ou lançamento do time adversário nas costas dos zagueiros e/ou laterais brasileiros, inclusive o gol da vitória da seleção uruguaia na semifinal, aproveitando a má execução da linha de impedimento, entretanto, vale ressaltar que, para uma boa execução necessita-se de entrosamento, algo díficil para uma seleção com pouquíssimo tempo de treinamentos antes e durante a competição.

Reprodução: Rede Record
Com a bola, a seleção alternou entre ser propositor e reativo. Ao roubar a bola, no campo de ataque ou no de defesa, buscou contra-atacar em bloco, com jogadores próximos, definindo rapidamente as jogadas. Ao propor o jogo, a equipe buscou a troca de passes curtos e rápidos, com muita mobilidade - algo que já era esperado pelas características dos jogadores convocados - e triangulações pela faixa central e/ou pelas beiradas no terço final do campo para quebrar as linhas de marcação do time adversário, como no lance abaixo do único gol contra o Uruguai na semifinal: Erik sai do centro congestionado, busca o jogo pelo flanco direito, passa a bola para Dodô e faz a diagonal longa flanco-área entre lateral e zagueiro para receber um lindo lançamento/passe de Dodô e sofrer um pênalti que Clayton perdeu e fez no rebote. Dodô - que sempre iniciou as partidas como um falso 9 - abria espaços para as entradas em diagonal dos meias-extremos - Luciano pela direita e Clayton à esquerda, e ambos afastavam-se um pouco da lateral e, consequentemente, abriam os corredores para os laterais.


Reprodução: Rede Record

Porém, a seleção brasileira demonstrou durante todas as partidas, um grave erro na organização ofensiva: a distância muito grande entre os volantes e zagueiros, os meias não aproximaram, e o Brasil ficou sem saída de bola limpa e vertical pelo centro do campo, como no flagrante tático abaixo, prejudicando/desqualificando a organização e transição ofensiva. No futebol moderno, a saída de bola qualificada pelo centro do campo é primordial. A lógica é simples: pelo centro do campo, existem várias opções de passe para o portador da bola, inclusive, os jogadores nas beiradas do campo, mas não adianta apenas sair pelo centro, se o volante não tem passe qualificado e opções o jogo da equipe não terá progressão vertical.

Reprodução: Rede Record

Apesar dos resultados, é nítida a evolução de uma seleção que, com Alexandre Gallo como técnico, era desorganizada em todos os momentos do jogo, buscando quase sempre a vitória pessoal, deixando em muitos momentos o trabalho coletivo de lado. Atualmente, Rogério Micale, 46 anos, é o técnico mais preparado para comandar a seleção olímpica, não só em amistosos, como também nos Jogos Olímpicos de 2016. Porém, Dunga, técnico da seleção principal, foi escolhido para ocupar esse cargo.





Por: José Victor
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terça-feira, 14 de julho de 2015

Canadá 1 x 4 Brasil: na estreia das seleções no futebol masculino dos Jogos Pan-Americanos de 2015, prevaleceu o jogo coletivo do Brasil de Micale





No domingo (12), Brasil e Canadá estrearam no futebol masculino dos Jogos Pan-Americanos de 2015, sediado em Toronto-CAN. A seleção brasileira sub-22 comandada pelo técnico Rogério Micale goleou a seleção canadense sub-22, por 4 a 1, em jogo válido pelo Grupo A. A próxima partida da seleção brasileira é contra o Peru, que vem de derrota por 2 a 1 diante do Panamá. Já a seleção anfitriã tentará se recuperar contra o Panamá.

Rogério Micale, 46 anos, atual técnico da seleção sub-20 e sub-22, entretanto, também comandará a seleção sub-23 em amistoso contra a França, no dia 8 de setembro, pois Dunga, atual técnico da seleção principal, que após a demissão de Gallo foi escolhido para comandar a seleção olímpica, estará comandando no mesmo dia, a seleção principal em amistoso contra os Estados Unidos. Adepto do futebol ofensivo, coletivo, intenso, vertical, manutenção da posse de bola com passes curtos, compacto e móvel, Micale estudou muito e buscou conhecimento. Mesmo assumindo o comando da seleção a poucos dias do Mundial sub-20, após a demissão de Alexandre Gallo que até já havia feito a convocação para a competicão, aplicou em pouco tempo de treinamento os seus conceitos de jogo e fez a seleção apresentar um futebol coletivo, ofensivo, com troca de passes curtos, mobilidade e disciplina tática. Para muitos que acompanharam o Mundial, foi a seleção que apresentou o melhor futebol da competição, porém, acabou perdendo para a Sérvia na final, por 2 a 1. Mesmo assim, ficou evidente a evolução de uma seleção que com Gallo era desorganizada, buscando quase sempre a vitória pessoal, deixando em muitos momentos o coletivo de lado.

                             
Posicionamento inicial das equipes: Canadá no 4-1-4-1 contra o Brasil no 4-2-3-1 com variação constante para o 4-4-2 na fase defensiva. 

Com poucos segundos de bola rolando, a proposta de Micale ficou clara: pressionar a saída de bola canadense com o quarteto ofensivo - Luciano pela direita, Rômulo como meia-central, Clayton à esquerda e mais à frente Dodô - do 4-2-3-1 para roubar a bola próximo do gol ou forçar o chutão do adversário, como no lance abaixo. Observe que o goleiro canadense está com a bola, na sequência da jogada ele opta por passá-la para o zagueiro Manjrekar James que, sem opção de passe, foi forçado a dá um chutão para o ataque, facilitando o trabalho da linha defensiva e dos volantes Barreto, do Criciúma, e Eurico, do Cruzeiro. 


Reprodução: Rede Record

No flagrante tático abaixo, pode-se observar os 10 jogadores de linha do Brasil no campo de defesa, 8 deles formando duas linhas de quatro bem compactas, com Rômulo e Dodô à frente. Na seleção de Micale, todos jogam sem a bola, facilitando o trabalho de tirar os espaços do adversário. Observe também a superioridade númerica da seleção brasileira, são 10 jogadores brasileiros contra 7 canadenses - um deles, o atacante Caleb Clarke, em impedimento.

Reprodução: Rede Record

Com a bola, a seleção brasileira buscava a troca de passes curtos, com muita mobilidade no meio-campo e ataque - algo que já era esperado pelas características dos jogadores convocados, com triangulações pela faixa central e/ou pelas beiradas do campo, principalmente, pelo flanco esquerdo com o ofensivo lateral-esquerdo Euller, o meia-extremo esquerdo Clayton e o meia-armador Rômulo. Clayton que ora entrava em diagonal entre Alexander Comsia e James, ora vinha por dentro afastando-se um pouco da lateral e, consequentemente, abrindo o corredor para Euller - com liberdade pra avançar já que Hanson Boakai, o meia-extremo direito do Canáda, não o acompanhava como deveria - que batia de frente com Comsia. Um dos pontos negativos da partida da seleção brasileira, que precisa de ajustes, foi a distância do quarteto ofensivo e Barreto - que em alguns monentos se aproximou - de Eurico, o volante responsável pela saída de bola, e dos zagueiros Luan e Bressan. É muito mais fácil Eurico e/ou os zagueiros acertarem um passe de 5 metros com o recuo dos meias e a ajuda obrigatória de Barreto do que acertar um de 20 metros se eles ficam espetados, lá na frente. 

O técnico espanhol Antonio Floro, filho de Benito Floro, ex-jogador e atual técnico da seleção principal do Canadá, também tinha uma proposta bem clara: acionar em velocidade os meias-extremos da linha intermédiaria de ataque do 4-1-4-1 canadense, Hanson Boakai pela direita e Malham Balouli à esquerda, nas costas dos laterais Euller e Tinga, respectivamente. Chris Mannella que atuou à frente da defesa e por trás de Béland-Goyette e Gagnon-Laparé os meias-centrais da linha de quatro do meio-campo, ficando no entrelinhas, porém, muito bem marcado, ora por Rômulo e ora por Dodô, com isso pouco ajudou na saída de bola.


Reprodução: Rede Record
Muito superior nos primeiros minutos, o Brasil abriu o placar com Luciano, após uma roubada de bola e uma linda troca de 6 passes até o cruzamento de Rômulo para a penetração do atacante corintiano entre Adam Bouchard e Kevon Black pra finalizar de primeira. Gol coletivo do Brasil. A seleção canarinho continuou com o domínio territorial e controlando as açoes do jogo, e sempre trocando passes curtos, "o futebol bem jogado", tão citado por Micale em entrevistas. Todas as jogadas de perigo da seleção verde-amarela tinham no mínimo participação de 3 jogadores. Como por exemplo, a finalização de Dodô que exigiu grande defesa do goleiro Crépeau, após uma bela inversão de jogo de Tinga da direita pra esquerda e uma bela tabela entre o atacante do Atlético-MG e o atacante Clayton, do Figueirense. Dos 20 minutos aos 35 minutos da primeira etapa, a seleção do Canadá foi um pouco superior, aproveitando os espaços deixados pelos laterais brasileiros, principalmente, o lateral-direito Tinga que deixava o corredor aberto para o velocista Babouli que recebeu de Boakai e finalizou na trave do goleiro Andrey e, nove minutos depois, novamente Babouli recebeu livre e cruzou para o pouco participativo Caleb Clarke que, sozinho na área, não alcançou.

Após algumas falhas defensivas, o Brasil voltou a ter tranquilidade para circular a bola e quebras as linhas de marcação canadenses, até que Luciano recebeu, cruzou e a zaga cortou, porém, a segunda bola foi do Brasil e Rômulo finalizou muito bem com o pé esquerdo e ampliou a vantagem brasileira. Mais um gol coletivo do Brasil. A seleção anfitriã começou a parar o Brasil com faltas, mas o árbitro só deu um cartão amarelo e só na segunda etapa.

Na volta do intervalo, as seleções manteram os sistemas táticos e as peças. O panorama do jogo não mudou, a seleção canarinho manteve a posse de bola durante 1min55s de jogo na segunda etapa, até Luciano encontrar com um belo lançamento o atacante Clayton infiltrando livre e ter apenas o trabalho de encobrir o goleiro. Gol sensacional do Brasil que mais uma vez foi coletivo, vertical e objetivo. Aos 10 minutos, linda triangulação pelo flanco direito entre Luciano, Rômulo e Dodô que acabou finalizando pra fora, seria outro gol após uma bela troca de passes. Porém, logo depois, a seleção canadense voltou a acionar Babouli nas costas de Tinga, o camisa 11 carregou a bola, entrou na área e, com tranquilidade, apenas tirou de Andrey. Outro ponto negativo da seleção brasileira na partida de estreia foi o posicionamento dos laterais, isso precisa ser aprimorado e, talvez, Micale pode testar o bom lateral-direito Gilberto, titular do Botafogo, no lugar de Tinga, na partida contra o Peru, na quinta-feira. Mas o principal é acertar o posicionamento e a cobertura em diagonal dos volantes.

Após 15 minutos de bom jogo na segunda etapa, o nivel técnico caiu e o nervosismo aumentou, com ambas equipes parando o jogo com muitas faltas. O técnico brasileiro colocou o meia-atacante Lucas Piazon, que pertence ao Chelsea, porém, atuou pelo Eintracht Frankfurt na temporada 2014-15, emprestado pelo clube inglês, no lugar do cansado Rômulo, entrando na mesma função do meia do Bahia, logo depois Antonio Floro colocou Ben Fisk no lugar de Clarke, entrando na mesma função do camisa 9, com o evidente objetivo de dá mobilidade aos Les Rouges que tinha 45% de posse contra 55% do Brasil. Com o tempo passando e a seleção brasileira administrando o resultado, com ambas equipes nitidamente cansadas, os técnicos fizeram suas duas últimas substituições. Na equipe brasileira, entraram Bruno Paulista e Erik, saíram Barreto e Luciano, respectivamente. Já na anfitriã, entraram Aparicio e Edward, saíram Gagnon-Laparé e Béland-Goyette.

Com as entradas de Edward e Aparicio, Babouli passou a atuar como um falso 9 à frente da  linha de quatro do meio-campo composta por Fisk aberto pela direita, Aparicio e Boakai centralizados e Edward à esquerda, e foi por lá e com ele que o Brasil quase sofreu o segundo gol. Mesmo com sustos e falhas defensivas que precisam ser corrigidas, a seleção verde-amarela que terminou com 56% de posse de bola e 20 finalizações, 12 no alvo, foi muito superior e o diferencial não foi só a qualidade técnica, foi a coletividade apresentada. Ainda deu tempo de Erik, atacante do Goiás, fechar a conta, com um belo gol de cabeça, após uma linda assistência de Dodô, que passou a atuar aberto pelo flanco direito na linha intermédiaria de ataque do 4-2-3-1 após a saída de Luciano.




Por: José Victor
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quinta-feira, 2 de julho de 2015

Sejam bem-vindos!


  Olá, meu nome é José Victor, sou natural de Vitória de Santo Antão-PE, tenho 15 anos e pretendo me formar em jornalismo e ser comentarista esportivo. Sou um verdadeiro doente por futebol, que se apaixonou pelo lado tático do esporte. O blog ''Padrão Tático" terá como objetivo analisar como as equipes jogam - sistemas táticos, propostas de jogo, o comportamento em todos os momentos do jogo: organização ofensiva, organização defensiva, transição defesa-ataque, transição ataque-defesa e a bola parada - e a filosofia de jogo dos técnicos do futebol mundial. Afinal, o futebol é um esporte coletivo e essencialmente tático, isso aliado a qualidade técnica dos jogadores que inegavelmente decidem os jogos.