domingo, 29 de novembro de 2015

O primeiro gol do Barça contra a Real Sociedad: em uma só jogada, diversos princípios


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O modelo de jogo é formado pelos princípios táticos, e uma equipe bem organizada tem os princípios definidos para cada momento e/ou situação de jogo. Como se ganha esses princípios? É simples: treinando. E o Barça tem tudo isso dito anteriormente. O time repete os seus movimentos, é a chamada coordenação.

Recentemente, publiquei na fanpage do blog, uma imagem da construção de jogo (I fase da organização ofensiva) da equipe diante do Real Madrid. Isso é um padrão da equipe. Observe a imagem e o post na fanpage: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1740804232868558&id=1702843283331320&pnref=story

Na imagem abaixo (4 em 1) do primeiro gol do Barça contra a Real Sociedad, na vitória por 4 a 0 no último sábado, pode-se observar muito mais sobre a organização ofensiva da equipe:

Reprodução: beIN Sports (amplie a imagem e observe bem)
Em uma só jogada, diversos princípios foram utilizados para se chegar ao principal objetivo de um jogo de futebol: o gol. Se a equipe treina bem, joga bem. E se aplica no jogo, é porque compreendeu a ideia do técnico no treino, ou seja, existe uma boa comunicação entre Luís Enrique e os jogadores. Trabalho coletivo forte da equipe favorece o impressionante talento lá na frente e vice-versa.

Em um futuro próximo, este que escreve fará uma análise completa sobre o Barcelona de Luís Enrique, analisando o comportamento da equipe em todos os momentos do jogo.

Por: José Victor de Lima Soares

domingo, 18 de outubro de 2015

O competente e organizado Corinthians de Tite


Texto originalmente escrito por mim lá no site Doentes Por Futebol. 

Por: José Victor
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72% – com 20 vitórias e apenas 4 derrotas em 31 jogos disputados – de aproveitamento de pura competência e organização: esse é o Corinthians de Tite. Líder do Brasileirão com muitos méritos, vem sendo seguido pelo Atlético-MG, time que enfrentará em jogo válido pela 33ª rodada, no Independência.

Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Final antecipada?
Só o futuro dirá.

Organização tática:

O sistema tático-base da equipe é o 4-1-4-1, geralmente com Ralf à frente da defesa e por trás de uma linha intermediária de ataque formada por Jadson pela direita, Elias e Renato Augusto pela faixa central e Malcom à esquerda, com Vágner Love mais à frente.

Sem a bola, o time não é apenas compacto, pois só compactação nao basta, é necessário muita intensidade e organização, e isso o Corinthians de Tite tem de sobra: 2 linhas de 4 muito próximas, com Ralf entre elas, utilizando a marcação por zona com pressão intensa sobre a bola, como na imagem abaixo. Portanto, todos têm como referência o espaço e a bola, algo essencial no futebol moderno.
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Reprodução: Premiere
Vale ressaltar que, o Corinthians sempre busca criar intensamente superioridade numérica no setor onde a bola está (no jogo) e fechar as linhas de passe do adversário com a bola, até recuperá-la – seja com desarmes ou forçando o erro de passe -, como mostra bem a imagem abaixo. Trabalho coletivo muito forte.
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Reprodução: Premiere
Em certos momentos, principalmente como mandante, a equipe adianta a linha intermediária pra pressionar intensamente junto a Vágner Love a saída de bola do adversário, com o simples e muito importante objetivo de roubar a bola próximo do gol ou forçar o chutão – como na imagem abaixo – facilitando o trabalho defensivo e prejudicando a organização ofensiva do adversário.
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Reprodução: Premiere
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O ataque começa na defesa:
O melhor ataque do Brasileirão (57 gols) começa na defesa, com Renato Augusto recuando, como na imagem abaixo, para qualificar e agilizar a saída de bola, um – por vezes, os dois – dos meias-extremos (Jadson e Malcom) buscando o centro pra criar linhas de passe verticais e Elias muitas vezes buscando se projetar ao campo de ataque. Essas movimentações se repetem diversas vezes, é a coordenação dos movimentos, que já foi citada por Tite em entrevistas.
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Reprodução: Premiere
“Intensidade só é feita sem a posse, com a posse, não dá, pois com ela é necessário coordenação dos movimentos” – ressaltou Tite, em entrevista ao SporTV, minutos antes do início do clássico contra o Santos pelo Brasileirão, jogo no qual o time venceu por 2 a 0, no dia 20 de setembro. Dito e feito.
Entretanto, como também mostra a imagem acima, o time tem um problema na saída de bola: Ralf.
Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Ele é quase sempre peça nula, pois fica parado e não procura dar opção de passe e, quando recebe a bola, não possui passe qualificado pra fazer o time progredir no campo de jogo. Volante que só joga sem a bola, não cabe mais no futebol moderno. 
Após a saída de bola, em poucos segundos o time já está no campo de ataque, e como na saída de bola, a equipe repete movimentos: Jadson – que abre o corredor pra Fágner, que avança – se une a Renato Augusto pelo centro pra preparar as jogadas ou até finalizar, Vágner Love fica de costas pra fazer o pivô ou gira pra finalizar, Elias busca a projeção e/ou tabelas e triangulações – não é só ele, o time busca sempre fazer triangulações em todo o campo – com os camisas 8 e 10 e Malcom busca a penetração na área, como na imagem abaixo.
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Reprodução: Premiere
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É Jadson – o camisa 10 – que arma o jogo?

Não. É a equipe, ao trabalhar muito bem coletivamente e fazer diversos momentos simultaneamente. Tudo pensado, treinado e aplicado por Tite, com o fundamental trabalho do departamento de análise de desempenho, um dos melhores do Brasil.
A equipe não só constrói bem o jogo como também sabe jogar bem na base da reação ao adversário, o famoso contra-ataque, buscando definir rapidamente as jogadas, ora com troca rápida de passes curtos e ora invertendo o lado da jogada pra depois cruzar na área, quase sempre com vários jogadores entrando nela, sejam penetrando em diagonal ou pelo meio.
Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Na imprensa (em grande maioria dela), fala-se mais sobre erros de arbitragem – que realmente é ridícula, algo até esperado já que eles não são profissionais – do que do desempenho tático da equipe, mas Tite merece muitos elogios pelo seu trabalho no Corinthians, e ainda mais por ter estudado e buscado conhecimento mesmo após ter sido campeão mundial pelo próprio clube. Se o time terminará o Brasileirão como campeão, só o futuro dirá, mas o certo é que Adenor está de parabéns pelo ótimo trabalho tático à frente do Timão



sábado, 5 de setembro de 2015

Os torcedores e, principalmente, a imprensa esportiva precisam quebrar os conceitos arcaicos do futebol brasileiro - os técnicos também devem se atualizar


No dia 8 de julho de 2014, aconteceu uma épica vitória da Alemanha por 7 a 1 diante do Brasil em pleno Mineirão lotado numa semifinal de Copa do Mundo, desde então fala-se muito em uma renovação do futebol brasileiro, apenas fala-se, pois na prática pouco ou quase nada mudou, não só na CBF, mas também nos pensamentos de alguns torcedores (em grande maioria) e, principalmente, da imprensa esportiva (em grande maioria), que poderiam ser os responsáveis por disseminar o fim de alguns conceitos arcaicos do futebol brasileiro.

Meu time é fraco tecnicamente, precisamos ter humildade e colocar volantes ''brucutus'' para dar uma maior segurança defensiva pra equipe...

Esse pensamento acima é muito antigo e errado. Ter 1, 2 ou 3 ''volantes brucutus'' não ajuda a equipe, na verdade prejudica ainda mais. Se uma equipe é muito compacta - como na imagem abaixo - e busca sempre a criação de superioridade numérica e fechar as linhas de passe, como na segunda imagem abaixo, o adversário não terá tempo (para pensar) e espaço (para executar o passe ou a finalização) e acabará errando o passe, ou seja, não é necessário um ''brucutu' pra roubar a bola.

Reprodução: Rede Bandeirantes

Reprodução: SporTV/ Premiere
No futebol moderno, a saída de bola qualificada pelo centro do campo é primordial. A lógica é simples: pelo centro do campo, existem várias opções de passe para o jogador que está com a bola, inclusive, os jogadores nas beiradas do campo, mas não adianta apenas ter opções, o jogador que está com ela (normalmente na saída é um volante) precisa ter passe qualificado para o jogo da equipe ter progressão vertical.

Centroavante só serve pra fazer gol...


Não existe centroavante que só serve pra fazer gol, pois se existisse a cada toque na bola, ele fazia 1 gol e, infelizmente, esse jogador ainda não nasceu. O centroavante Grafite, que recentemente voltou ao Santa Cruz, aprendeu no futebol europeu que a defesa começa no ataque e, atualmente, é um erro dizer que ele joga só com a bola - a imagem abaixo exemplifica isso. O centroavante também deve participar da fase defensiva, e não ficar ''paradão'' lá na frente.

Reprodução: Premiere
Outra contribuição importante de um centroavante, que geralmente são altos, é o trabalho de pivô: ao sair da área pra fazer o pivô, o centroavante geralmente - contra times que fazem encaixes individuais, que infelizmente ainda é muito comum no Brasil - atrai um marcador e, consequentemente, cria espaços para os companheiros aproveitarem, como no lance abaixo.

Reprodução: Premiere
O lateral-esquerdo está sempre livre pela esquerda e o time todo na direita, que time desorganizado...

Essa frase acima está errada: o time não está desorganizado, na verdade está organizado, pois está executando com primazia o balanço defensivo - movimento das linhas de uma lado para o outro conforme a circulação da bola-, conceito essencial da marcação por zona. Neste caso, a referência dos jogadores é o espaço e a bola, não o individual. Já o jogador livre não receberá a bola, pois a equipe fechará as linhas de passe do adversário com a bola. Isso precisa ser disseminado pela imprensa.

Nosso time precisa urgentemente de um camisa 10 pra armar o jogo...


Esse pensamento acima é dito e escrito por muitos torcedores daqui do Brasil, mas é errado, mesmo com alguns jornalistas (não são todos) dizendo que uma determinada equipe precisa contratar um armador. Armar o jogo não depende de camisa 10, mas sim de mecanismos coletivos e modernos, como a saída lavolpiana ou saída de 3, com um volante afundando entre os zagueiros (que abrem), os laterais avançando para dá amplitude, e os meias e/ou atacantes se movimentando e aproximando-se dos zagueiros e volantes em busca de criar linhas de passe.

Pegarei dois exemplos de times brasileiros já analisados por este blog: o Grêmio de Roger Machado e o Sport de Eduardo Baptista. Observem nas imagens abaixo: a construção de jogo começa lá na defesa, com mecanismos coletivos e modernos, sem depender de camisa 10.

Reprodução: SporTV/Premiere
Reprodução: Rede Bandeirantes

Nosso time está muito defensivo, precisamos atuar no 4-3-3...

Sistemas ou esquemas táticos não são sinônimos de estratégia. Em uma partida de futebol, ambos os times podem atuar com o mesmo sistema tático, mas com estratégias totalmente diferentes. Exemplo: duas equipes se enfrentam e atuam no 4-3-3, uma das equipes propõe o jogo, com linhas adiantadas, buscando valorizar a posse de bola com toques curtos e rápidos, enquanto que, a outra equipe busca explorar os contra-ataques, marcando a partir de seu próprio campo e, por vezes, busca acionar os pontas com lançamentos longos.

A falta de informação na imprensa esportiva brasileira é muito prejudicial pro futebol brasileiro, pois sem a informação correta sobre determinados assuntos do jogo, gera-se interpretações e, consequentemente, críticas a técnicos mesmo sem o menor entendimento do jogo, e os dirigentes que em grande maioria contratam técnicos sem convicção, acabam demitindo por pura pressão de torcedores, sem planejamento algum. 

O futebol brasileiro dentro de campo mostra uma boa evolução tática, mas só isso não adianta, é necessário uma evolução no pensamento do torcedor, da imprensa, dos dirigentes e de alguns técnicos, que precisam estudar e buscar conhecimento e não viver do passado, já que quem vive de passado é museu. O futebol evolui a cada dia, o Brasil não pode ficar pra trás.


Por: José Victor
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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A filosofia tática de Roger Machado, que aplica os seus modernos conceitos de jogo no Grêmio, terceiro colocado do Brasileirão


O técnico do Grêmio e ex-jogador Roger Machado, 40 anos, é graduado em educação física, além de ter feito curso de gestão esportiva e participado do Fórum Internacional de Futebol (Footecon) por dois anos, em resumo: estudou e buscou conhecimento, com um importante incentivo de Augusta, sua mãe, e uma contribuição de Tite, atual técnico do Corinthians, que era seu técnico no próprio Grêmio em 2001/2003.

''A busca pelo conhecimento é algo constante para mim. Foi algo que foi fomentado desde muito cedo. Minha mãe de criação me ensinou que sempre temos que buscar conhecimento, porque conhecimento ninguém te toma, a não ser que corte tua cabeça fora. E isso eu passo para as minhas filhas também'' – destacou o treinador, em entrevista ao LANCE!.

Em uma entrevista recente, Roger ressaltou que alterou a estrutura da equipe, acrescentou os seus conceitos de jogo e fez a equipe jogar de uma maneira que representa a sua forma de vê o futebol e, na mesma entrevista, afirmou: ''tomo decisões em prol do coletivo''. Isso dito por ele, exemplifica o que é o Grêmio: um time que aplica os modernos conceitos de jogo do seu técnico e que prioriza o trabalho coletivo para favorecer o talento individual de alguns jogadores e vice-versa.

O sistema tático-base da equipe é o 4-2-3-1, com Walace e Maicon à frente da defesa e por trás de uma linha intermediária de ataque formada por Giuliano pela direita, Douglas pela faixa central e Pedro Rocha à esquerda, com Luan - o falso 9 - à frente.


Sem a bola, a equipe alterna entre executar a marcação pressão com o quarteto ofensivo na saída de bola do oponente ou se fechar com duas linhas de quatro muito compactas, com Douglas e Luan à frente da segunda linha, como no flagrante tático abaixo. No Grêmio de Roger: todos participam ativamente da fase defensiva, algo que exige um trabalho coletivo muito forte e que facilita o trabalho de encurtar/tirar os espaços do oponente.

Reprodução: SporTV/Premiere
Ao perder a bola, o chamado momento pós-perda (essencial para a transição defensiva), a equipe busca imediatamente recuperá-la, criando intensamente a superioridade numérica e fechando as linhas de passe, como na imagem abaixo, algo muito importante no futebol (não só no atual), pois mesmo se não tiver sucesso na recuperação, o passe do adversário será quebrado e, consequentemente, a organização ofensiva ficará prejudicada, facilitando o trabalho defensivo.

Reprodução: SporTV/Premiere
Na saída de bola, os zagueiros abrem, Walace ou Maicon - segundo melhor passador do Brasileirão, com 1015 passes certos e o melhor do time nesse fundamento - afunda entre eles, os laterais avançam para dá amplitude, os meias e/ou atacantes se movimentam e aproximam-se dos zagueiros e volantes: o time constrói o jogo - como no lance abaixo - com qualidade e movimentação desde lá de trás, quase sempre executando a saída de 3 ou saída lavolpiana. Mecanismo coletivo e moderno.

Reprodução: SporTV/Premiere

Roger disse que o futebol não deixa de ser uma forma mais complexa das rodas de bobinho, só que móvel: o Grêmio aplica isso dentro de campo, a transição entre defesa e ataque é muito rápida, os jogadores se movimentam e aproximam-se para trocar passes curtos e rápidos com triangulações pela faixa central e/ou pelas beiradas, atraindo a marcação e criando espaços, fazendo o adversário ser o bobinho em campo, como no lance abaixo.

Reprodução: SporTV/Premiere
— Sabem aquelas rodas de bobinho em que os jogadores fazem antes dos treinos? O futebol não deixa de ser uma forma mais complexa daquilo ali, um grande "bobo móvel". E eu tenho que enganar o adversário — exemplificou Roger, no programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha. Dito e feito.

Na mesma entrevista, Roger ressaltou que busca a aproximação dos jogadores pelo meio, mas ao mesmo tempo procura criar profundidade pelos lados, para abrir o jogo e depois cruzar na área, com os jogadores que trabalharam a bola pelo meio infiltrando-se na área, como no lance abaixo.

Reprodução: ESPN.com.br
— Precisamos desta aproximação pelo meio, mas com criação de profundidade pelos lados. Abrir o jogo para depois avançar pelo centro de novo. Neste caso, o mais importante é quantos jogadores chegam dentro da área. Tem um amigo meu que diz: "se o futebol fosse só pelos lados, o gol não era no meio" — ressaltou Roger, no programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha. Novamente, dito e feito.

Vale ressaltar que, uma das grandes diferenças do Grêmio de Felipão para o de Roger, é que agora a equipe treina menos, mas melhor e mais forte. Se a equipe treina bem, joga bem. Se a equipe compreende a ideia do técnico no treino, aplica no jogo. Se treina intensamente, joga intensamente. Em resumo: tudo que o Grêmio faz em campo, foi pensado e treinado por Roger.

Estatísticas: Footstats

Por: José Victor
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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Sport de Eduardo Baptista é muito organizado, moderno, móvel e coletivo - parabéns a Eduardo Baptista e a diretoria do clube


O Sport de 2015 colhe o que plantou em 2014, com planejamento a longo prazo, a diretoria manteve o técnico Eduardo Baptista, mesmo com duas ''crises'' nesse período, e qualificou pontualmente o elenco conforme as necessidades. Vale ressaltar que, a diretoria raramente atrasa os salários, facilitando a contratação de bons jogadores.

O sistema tático-base da equipe é o 4-2-3-1, com mudanças de jogadores de acordo com as características do adversário, geralmente, o time atua com Rithely e Wendel à frente da defesa e por trás de uma linha intermediária de ataque formada por Maikon Leite (que estava lesionado, com Élber no seu lugar) pela direita, Diego Souza pela faixa central e Marlone à esquerda, com André à frente.

Sport atua no 4-2-3-1, com variação constante para o 4-4-2 na fase defensiva.
Sem a bola, o Sport se fecha - como na imagem abaixo - no 4-4-2 em linhas, utilizando os conceitos - alguns modernos - que são necessários para o sucesso do esquema e, consequentemente, do time: compactação e estreitamento das linhas, marcação por zona com pressão sobre a bola, jogadores (laterais e pontas) com vigor para atacar e defender com a mesma intensidade pelos lados e a ótima execução do balanço defensivo - movimento das linhas de um lado para o outro conforme a circulação da bola.

Reprodução: Rede Bandeirantes
Vale ressaltar que, a equipe sempre busca intensamente, como é possível observar no flagrante tático abaixo, a criação da superiodade numérica onde a bola está (no jogo) e fechar as linhas de passe do jogador que está com a bola. Ao criar superioridade, a equipe encurta o tempo (para pensar) e o espaço (para executar o passe) do jogador adversário. Isso exige um trabalho coletivo forte e disciplina tática da equipe.

Reprodução: Rede Bandeirantes
Ao subir um pouco a pressão da marcação na saída de bola do oponente, como no lance abaixo, a equipe demonstra ter uma falha: a linha defensiva não acompanha a subida de pressão da linha de 4 do meio-campo, deixando um espaço vazio entre a defesa e o meio e, se a equipe não executar com primazia essa pressão, o oponente poderá atacar esse espaço vazio entre as linhas.

Reprodução: Rede Bandeirantes
Na saída de bola, o volante - geralmente, Rithely - afunda entre os zagueiros (que abrem), os laterais avançam para dá amplitude e o time constrói o jogo com qualidade (pelo centro do campo) lá de trás, como no lance abaixo, não só pelo passe qualificado de Rithely (o melhor passador e ladrão de bolas do time no Brasileirão, com 727 passes certos e 58 roubadas de bola), mas também pela aproximação dos meias e/ou atacantes e pela movimentação na saída. Novamente, conceito de jogo moderno no Sport.

Reprodução: Rede Bandeirantes
Após a saída de bola, a equipe chega no campo de ataque, como no lance abaixo, onde busca sempre atacar com no mínimo 7 jogadores, os laterais e/ou meias-extremos ''alargam'' o campo, os volantes aparecem para distribuir o jogo, com opções de passes à frente da linha da bola e, consequentemente, a equipe tem progressão vertical, amplitude e profundidade.

Reprodução: Premiere

Em 2014, o time sofreu muito com um problema: propor o jogo. Em 2015, esse problema foi muito reduzido, com a equipe buscando a troca inteligente de passes curtos e rápidos, com jogadores próximos - formando triângulos, como na imagem abaixo, facilitando a troca limpa e vertical de passes - e buscando a infiltração e/ou diagonal dos meias-atacantes - que buscam se movimentar no terço final do campo (até André, tido por muitos como lento e preguiçoso, participa ativamente do jogo) e, consequentemente, abrem espaços.

Reprodução: Rede Bandeirantes
A equipe, ao roubar a bola no campo de ataque, busca definir rapidamente as jogadas nos contra-ataques, ora buscando explorar a velocidade e o vigor dos laterais e/ou pontas pelos lados para depois cruzar na área e ora com jogadores próximos, buscando tabelas e/ou triangulações para infiltrar na área. Tudo pensado, treinado e executado pelo Sport do ótimo Eduardo Baptista.

Invicto, como mandante, o time leonino tem um campanha ''ruim'' como visitante, mas ela pode ser explicada (apenas pode) por alguns fatores: pressão da torcida adversária; o desgaste físico, pois o Sport é o único time do Norde-Nordeste no Brasileirão de 2015 e, consequentemente, é o que mais viaja nos jogos fora de casa; por último, a falta de eficiência nas finalizações e depois acaba perdendo pontos cruciais, levando o empate e/ou a virada.

O Sport brigar pelo G4, não é zebra ou utopia, mas é a consequência do planejamento a longo prazo, o que irá acontecer até o final do campeonato brasileiro é imprevisível, o certo é que a diretoria rubro-negra e o técnico Eduardo Baptista estão de parabéns.


Estatísticas: Footstats

Por: José Victor
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sábado, 8 de agosto de 2015

River Plate é tricampeão da Libertadores da América: os aspectos táticos da vitória diante do Tigres, que decidiu a competição


Na quarta-feira (5), River Plate e Tigres entraram em campo - no lotado Monumental de Núñez - para decidir a Libertadores da América de 2015. O time argentino buscava o título que não vinha desde 1996, enquanto que, o time mexicano buscava um título inédito para o clube e para o seu país. Vitória e título - o terceiro da Libertadores na sua história (1986,1996 e 2015) - dos ''Millonarios'', por 3 a 0, com gols de Alario, Carlos Sánchez e Funes Mori, respectivamente. Por vários fatores, o que irá acontecer no Mundial de Clubes, daqui a 5 meses, é imprevisível.

Posicionamento inicial das equipes: River no 4-4-2, com e sem a bola. Já o Tigres, com a bola, alternou entre o 4-2-3-1 e o 4-1-4-1, de acordo com a movimentação de Arévalo, sem a bola, alternou entre o 4-4-1-1 e o 4-1-4-1.
Com poucos minutos de bola rolando, ficou clara a proposta do River de Marcelo Gallardo: pressionar intensamente a saída de bola do Tigres para roubar a bola próximo do gol e/ou forçar o chutão, como no flagrante tático abaixo: observe a marcação pressão do time argentino na saída de bola do time mexicano, forçando o lateral-esquerdo Torres Nilo - sem opções de passes - dá um chutão.

Reprodução: Fox Deportes
Na mesma imagem acima, também é possivel observar: a grave falta de aproximação de Arévalo e dos meias-atacantes - Damm pela direita, Sóbis pela faixa central e Aquino à esquerda, com Gignac (pouco participativo) à frente no 4-1-4-1/4-2-3-1 do Tigres, variação ocasionada pela movimentação constante de Arévalo - de Pizarro ( quase sempre marcado por Ponzio) e dos zagueiros, dificultando/prejudicando ainda mais a organização ofensiva mexicana, que com o passe ''quebrado'' pouco ocupou o campo de ataque nos primeiros 15 minutos.

Quando a marcação pressão dos "'Millonarios'' falhava, o time sempre buscava a formação de superioridade numérica no setor onde a bola está (no jogo) e fechava as linhas de passes do adversário. Fechava-se com duas linhas de quatro nem tão compactas, com a linha de meio-campo composta por Sánchez pela direita, Kranevitter e Ponzio pela faixa central e Bertolo à esquerda, com Cavenaghi e Alario à frente, no 4-4-2 ''em linhas''.

Com a bola, a equipe argentina buscava a troca de passes curtos e rápidos, principalmente pelo flanco direito, mas não tinha infiltração dos meias e profundidade dos laterais e/ou meias-extremos, também com dificuldade pela compactação do Tigres no 4-4-1-1/4-1-4-1, na fase defensiva. Na saída de bola, Sánchez e Bertolo, geralmente, procuravam o centro do campo, abrindo os corredores para os laterais, entretanto, em alguns momentos, eles não ''alargavam'' o campo, como no lance abaixo, onde tambem é possivel observar alguns encaixes individuais realizados pelo Tigres de ''Tuca'' Ferretti.


Reprodução: Fox Deportes

Além da falha na saída de bola do Tigres, como já foi citado anteriormente na análise, faltou inteligência para a equipe mexicana, como o River não foi tão compacto defensivamente (ora marcando por zona e ora com encaixes), deixava um bom espaço para ser aproveitado entre os setores, mas o Tigres não atacou esses espaços vazios, além de não alargar o campo, como no lance abaixo.

Reprodução: Fox Deportes
O time mandante comandava a posse de bola ( 55% a 45%), entretanto, errava quase o dobro de passes - no primeiro tempo, foram 24 a 13 passes errados - e acertava mais (116 a 89). O primeiro gol do River saiu em uma jogada individual de Vangioni, que aproveitou a falha da marcação e acertou um belo cruzamento para Alario cabecear e abrir o placar. A seguir, pode-se observar o flagrante tático do primeiro gol dos ''Millonarios'':


Reprodução: Fox Deportes

Na volta para a segunda etapa, as peças e os sistemas táticos foram mantidos, porém, a estratégia do River Plate e do Tigres mudaram. A equipe argentina diminuiu a pressão e passou a marcar entre as intermediárias, dando um pouco mais de liberdade para Pizarro e buscando explorar os contra-ataques. O Tigres passou a propor o jogo, acionando mais Aquino e Damm, mas ainda sem mobilidade e infiltração, facilitando o trabalho defensivo do time argentino.

''Tuca'' Ferretti, que é brasileiro e está há 5 anos como técnico do Tigres, buscou qualificar o passe tirando Arévalo e colocando Dueñas, mas não deu certo, time continuou com posse, mas ainda um pouco estático e bem marcado pelo River. Gallardo tirou Alario, aparentemente machucado, e colocou Driussi, para dá mais velocidade no terço final do campo e pra ''colar'' em Pizarro, com isso, desfez o 4-4-2 e montou um 4-2-3-1, com variação para o 4-4-1-1, na fase defensiva, com Driussi por trás de Cavenaghi em ambas as fases.

Aos 28 minutos de jogo, Sánchez bateu muito bem o pênalti que sofreu para ampliar e praticamente garantir o título. Depois do gol sofrido, Tuca foi pro ''tudo ou nada'', tirando o lateral-direito Jiménez e colocando o atacante Guerrón, deslocando Damm para a lateral-direita, em uma espécie de 4-1-4-1. No River, entrou Pisculichi, o enganche do título da Copa Sul-Americana de 2014, no lugar de Cavenaghi. Logo depois, Pisculichi cobrou o escanteio na cabeça de Funes Mori que fugiu da marcação para fazer o gol do título. 

Ainda deu tempo de colocar o experiente Lucho González no lugar do jovem e promissor Kranevitter, com ele atuando ao lado de Ponzio pela faixa central da linha de meio do 4-4-1-1/4-4-2. Nada mais importante aconteceu, além de uma confusão, típica de uma final de Libertadores. Tigres terminou com mais posse de bola ( 52% a 48%), mas finalizou apenas uma vez no alvo em 90 minutos, contra 4 finalizações certas do River ( 3 foram gols): eficiência.

Posicionamento final das equipes: River no 4-4-2/4-4-1-1 contra o Tigres em uma espécie de 4-1-4-1.
Título merecido do River, com uma campanha ruim na primeira fase, mas com regularidade no mata-mata, venceu a equipe menos técnica na final, pois o trabalho coletivo e a raça prevaleceram diante de um dia ruim de alguns talentosos jogadores do Tigres.


Dados estatísticos: Footstats


Por: José Victor
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segunda-feira, 27 de julho de 2015

Brasil de Micale no Pan foi intenso, movediço e, principalmente, coletivo - mas não foi tão moderno


5 jogos, 15 gols marcados, 7 gols sofridos, 3 vitórias, 1 empate, 1 derrota e uma medalha de bronze: a campanha da seleção brasileira de futebol masculino nos Jogos Pan-Americanos de 2015, não foi ruim e nem foi boa, faltou a regularidade que era necessária para conquistar o ouro, que não vem desde do Pan de 1987. Rogério Micale é um ótimo técnico, com conceitos modernos de jogo, mas não é por acaso, ele estudou e buscou conhecimento, entretanto, precisa de tempo, como qualquer outro, para implantar e aplicar a sua filosofia de jogo. Adepto de um futebol ofensivo, movediço, intenso, compacto, vertical e que, prioriza, o trabalho coletivo - que favorece o talento individual e vice-versa. "O futebol bem jogado'', tão citado por Micale em entrevistas. 

O sistema tático-base da equipe no Pan foi o 4-2-3-1, com Barreto e Eurico à frente da linha defensiva, e por trás de uma linha intermediária de ataque formada por Luciano pelo flanco direito, Rômulo pela faixa central e Clayton à esquerda, com Dodô como um falso-9 à frente. 

O posicionamento inicial do Brasil, em todas partidas, foi o 4-2-3-1, com variação constante para o 4-4-2 na fase defensiva.

Sem a bola, a seleção verde-amarela alternou entre executar a marcação pressão na saída de bola do adversário com o quarteto ofensivo e/ou se fechar com duas linhas de quatro bem compactas, com Rômulo e Dodô à frente. Na imagem a seguir, pode-se observar o quarteto ofensivo brasileiro pressionando intensamente a saída de bola do adversário, conceito que foi utilizado em vários momentos durante a competição, com o objetivo de roubar a bola próximo do gol e/ou forçar o chutão para o campo de ataque - como no lance abaixo.

Reprodução: Rede Record


No flagrante tático abaixo, pode-se observar os 10 jogadores de linha do Brasil no campo de defesa, 8 deles formando duas linhas de quatro bem compactas, com Rômulo e Dodô à frente da segunda linha. Na seleção de Micale, todos jogam sem a bola, facilitando o trabalho de encurtar e/ou tirar os espaços do adversário. Na mesma imagem, é possível observar dois pontos, um positivo e um negativo, da seleção brasileira durante a competição: o positivo, executando o balanço defensivo - movimento das linhas de um lado para o outro conforme a circulação da bola, um conceito essencial para executar a marcação por zona com primazia - a seleção criou superioridade numérica no setor onde a bola está, no lance abaixo, a bola estava no centro do campo, são 10 jogadores brasileiros contra 7 canadenses no campo de defesa do Brasil, 2 brasileiros cercam o portador da bola para fechar as linhas de passe; o negativo, é a defesa em linha alta e/ou baixa, a maioria dos 7 gols sofridos pela seleção canarinho foram originados após uma enfiada ou lançamento do time adversário nas costas dos zagueiros e/ou laterais brasileiros, inclusive o gol da vitória da seleção uruguaia na semifinal, aproveitando a má execução da linha de impedimento, entretanto, vale ressaltar que, para uma boa execução necessita-se de entrosamento, algo díficil para uma seleção com pouquíssimo tempo de treinamentos antes e durante a competição.

Reprodução: Rede Record
Com a bola, a seleção alternou entre ser propositor e reativo. Ao roubar a bola, no campo de ataque ou no de defesa, buscou contra-atacar em bloco, com jogadores próximos, definindo rapidamente as jogadas. Ao propor o jogo, a equipe buscou a troca de passes curtos e rápidos, com muita mobilidade - algo que já era esperado pelas características dos jogadores convocados - e triangulações pela faixa central e/ou pelas beiradas no terço final do campo para quebrar as linhas de marcação do time adversário, como no lance abaixo do único gol contra o Uruguai na semifinal: Erik sai do centro congestionado, busca o jogo pelo flanco direito, passa a bola para Dodô e faz a diagonal longa flanco-área entre lateral e zagueiro para receber um lindo lançamento/passe de Dodô e sofrer um pênalti que Clayton perdeu e fez no rebote. Dodô - que sempre iniciou as partidas como um falso 9 - abria espaços para as entradas em diagonal dos meias-extremos - Luciano pela direita e Clayton à esquerda, e ambos afastavam-se um pouco da lateral e, consequentemente, abriam os corredores para os laterais.


Reprodução: Rede Record

Porém, a seleção brasileira demonstrou durante todas as partidas, um grave erro na organização ofensiva: a distância muito grande entre os volantes e zagueiros, os meias não aproximaram, e o Brasil ficou sem saída de bola limpa e vertical pelo centro do campo, como no flagrante tático abaixo, prejudicando/desqualificando a organização e transição ofensiva. No futebol moderno, a saída de bola qualificada pelo centro do campo é primordial. A lógica é simples: pelo centro do campo, existem várias opções de passe para o portador da bola, inclusive, os jogadores nas beiradas do campo, mas não adianta apenas sair pelo centro, se o volante não tem passe qualificado e opções o jogo da equipe não terá progressão vertical.

Reprodução: Rede Record

Apesar dos resultados, é nítida a evolução de uma seleção que, com Alexandre Gallo como técnico, era desorganizada em todos os momentos do jogo, buscando quase sempre a vitória pessoal, deixando em muitos momentos o trabalho coletivo de lado. Atualmente, Rogério Micale, 46 anos, é o técnico mais preparado para comandar a seleção olímpica, não só em amistosos, como também nos Jogos Olímpicos de 2016. Porém, Dunga, técnico da seleção principal, foi escolhido para ocupar esse cargo.





Por: José Victor
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terça-feira, 14 de julho de 2015

Canadá 1 x 4 Brasil: na estreia das seleções no futebol masculino dos Jogos Pan-Americanos de 2015, prevaleceu o jogo coletivo do Brasil de Micale





No domingo (12), Brasil e Canadá estrearam no futebol masculino dos Jogos Pan-Americanos de 2015, sediado em Toronto-CAN. A seleção brasileira sub-22 comandada pelo técnico Rogério Micale goleou a seleção canadense sub-22, por 4 a 1, em jogo válido pelo Grupo A. A próxima partida da seleção brasileira é contra o Peru, que vem de derrota por 2 a 1 diante do Panamá. Já a seleção anfitriã tentará se recuperar contra o Panamá.

Rogério Micale, 46 anos, atual técnico da seleção sub-20 e sub-22, entretanto, também comandará a seleção sub-23 em amistoso contra a França, no dia 8 de setembro, pois Dunga, atual técnico da seleção principal, que após a demissão de Gallo foi escolhido para comandar a seleção olímpica, estará comandando no mesmo dia, a seleção principal em amistoso contra os Estados Unidos. Adepto do futebol ofensivo, coletivo, intenso, vertical, manutenção da posse de bola com passes curtos, compacto e móvel, Micale estudou muito e buscou conhecimento. Mesmo assumindo o comando da seleção a poucos dias do Mundial sub-20, após a demissão de Alexandre Gallo que até já havia feito a convocação para a competicão, aplicou em pouco tempo de treinamento os seus conceitos de jogo e fez a seleção apresentar um futebol coletivo, ofensivo, com troca de passes curtos, mobilidade e disciplina tática. Para muitos que acompanharam o Mundial, foi a seleção que apresentou o melhor futebol da competição, porém, acabou perdendo para a Sérvia na final, por 2 a 1. Mesmo assim, ficou evidente a evolução de uma seleção que com Gallo era desorganizada, buscando quase sempre a vitória pessoal, deixando em muitos momentos o coletivo de lado.

                             
Posicionamento inicial das equipes: Canadá no 4-1-4-1 contra o Brasil no 4-2-3-1 com variação constante para o 4-4-2 na fase defensiva. 

Com poucos segundos de bola rolando, a proposta de Micale ficou clara: pressionar a saída de bola canadense com o quarteto ofensivo - Luciano pela direita, Rômulo como meia-central, Clayton à esquerda e mais à frente Dodô - do 4-2-3-1 para roubar a bola próximo do gol ou forçar o chutão do adversário, como no lance abaixo. Observe que o goleiro canadense está com a bola, na sequência da jogada ele opta por passá-la para o zagueiro Manjrekar James que, sem opção de passe, foi forçado a dá um chutão para o ataque, facilitando o trabalho da linha defensiva e dos volantes Barreto, do Criciúma, e Eurico, do Cruzeiro. 


Reprodução: Rede Record

No flagrante tático abaixo, pode-se observar os 10 jogadores de linha do Brasil no campo de defesa, 8 deles formando duas linhas de quatro bem compactas, com Rômulo e Dodô à frente. Na seleção de Micale, todos jogam sem a bola, facilitando o trabalho de tirar os espaços do adversário. Observe também a superioridade númerica da seleção brasileira, são 10 jogadores brasileiros contra 7 canadenses - um deles, o atacante Caleb Clarke, em impedimento.

Reprodução: Rede Record

Com a bola, a seleção brasileira buscava a troca de passes curtos, com muita mobilidade no meio-campo e ataque - algo que já era esperado pelas características dos jogadores convocados, com triangulações pela faixa central e/ou pelas beiradas do campo, principalmente, pelo flanco esquerdo com o ofensivo lateral-esquerdo Euller, o meia-extremo esquerdo Clayton e o meia-armador Rômulo. Clayton que ora entrava em diagonal entre Alexander Comsia e James, ora vinha por dentro afastando-se um pouco da lateral e, consequentemente, abrindo o corredor para Euller - com liberdade pra avançar já que Hanson Boakai, o meia-extremo direito do Canáda, não o acompanhava como deveria - que batia de frente com Comsia. Um dos pontos negativos da partida da seleção brasileira, que precisa de ajustes, foi a distância do quarteto ofensivo e Barreto - que em alguns monentos se aproximou - de Eurico, o volante responsável pela saída de bola, e dos zagueiros Luan e Bressan. É muito mais fácil Eurico e/ou os zagueiros acertarem um passe de 5 metros com o recuo dos meias e a ajuda obrigatória de Barreto do que acertar um de 20 metros se eles ficam espetados, lá na frente. 

O técnico espanhol Antonio Floro, filho de Benito Floro, ex-jogador e atual técnico da seleção principal do Canadá, também tinha uma proposta bem clara: acionar em velocidade os meias-extremos da linha intermédiaria de ataque do 4-1-4-1 canadense, Hanson Boakai pela direita e Malham Balouli à esquerda, nas costas dos laterais Euller e Tinga, respectivamente. Chris Mannella que atuou à frente da defesa e por trás de Béland-Goyette e Gagnon-Laparé os meias-centrais da linha de quatro do meio-campo, ficando no entrelinhas, porém, muito bem marcado, ora por Rômulo e ora por Dodô, com isso pouco ajudou na saída de bola.


Reprodução: Rede Record
Muito superior nos primeiros minutos, o Brasil abriu o placar com Luciano, após uma roubada de bola e uma linda troca de 6 passes até o cruzamento de Rômulo para a penetração do atacante corintiano entre Adam Bouchard e Kevon Black pra finalizar de primeira. Gol coletivo do Brasil. A seleção canarinho continuou com o domínio territorial e controlando as açoes do jogo, e sempre trocando passes curtos, "o futebol bem jogado", tão citado por Micale em entrevistas. Todas as jogadas de perigo da seleção verde-amarela tinham no mínimo participação de 3 jogadores. Como por exemplo, a finalização de Dodô que exigiu grande defesa do goleiro Crépeau, após uma bela inversão de jogo de Tinga da direita pra esquerda e uma bela tabela entre o atacante do Atlético-MG e o atacante Clayton, do Figueirense. Dos 20 minutos aos 35 minutos da primeira etapa, a seleção do Canadá foi um pouco superior, aproveitando os espaços deixados pelos laterais brasileiros, principalmente, o lateral-direito Tinga que deixava o corredor aberto para o velocista Babouli que recebeu de Boakai e finalizou na trave do goleiro Andrey e, nove minutos depois, novamente Babouli recebeu livre e cruzou para o pouco participativo Caleb Clarke que, sozinho na área, não alcançou.

Após algumas falhas defensivas, o Brasil voltou a ter tranquilidade para circular a bola e quebras as linhas de marcação canadenses, até que Luciano recebeu, cruzou e a zaga cortou, porém, a segunda bola foi do Brasil e Rômulo finalizou muito bem com o pé esquerdo e ampliou a vantagem brasileira. Mais um gol coletivo do Brasil. A seleção anfitriã começou a parar o Brasil com faltas, mas o árbitro só deu um cartão amarelo e só na segunda etapa.

Na volta do intervalo, as seleções manteram os sistemas táticos e as peças. O panorama do jogo não mudou, a seleção canarinho manteve a posse de bola durante 1min55s de jogo na segunda etapa, até Luciano encontrar com um belo lançamento o atacante Clayton infiltrando livre e ter apenas o trabalho de encobrir o goleiro. Gol sensacional do Brasil que mais uma vez foi coletivo, vertical e objetivo. Aos 10 minutos, linda triangulação pelo flanco direito entre Luciano, Rômulo e Dodô que acabou finalizando pra fora, seria outro gol após uma bela troca de passes. Porém, logo depois, a seleção canadense voltou a acionar Babouli nas costas de Tinga, o camisa 11 carregou a bola, entrou na área e, com tranquilidade, apenas tirou de Andrey. Outro ponto negativo da seleção brasileira na partida de estreia foi o posicionamento dos laterais, isso precisa ser aprimorado e, talvez, Micale pode testar o bom lateral-direito Gilberto, titular do Botafogo, no lugar de Tinga, na partida contra o Peru, na quinta-feira. Mas o principal é acertar o posicionamento e a cobertura em diagonal dos volantes.

Após 15 minutos de bom jogo na segunda etapa, o nivel técnico caiu e o nervosismo aumentou, com ambas equipes parando o jogo com muitas faltas. O técnico brasileiro colocou o meia-atacante Lucas Piazon, que pertence ao Chelsea, porém, atuou pelo Eintracht Frankfurt na temporada 2014-15, emprestado pelo clube inglês, no lugar do cansado Rômulo, entrando na mesma função do meia do Bahia, logo depois Antonio Floro colocou Ben Fisk no lugar de Clarke, entrando na mesma função do camisa 9, com o evidente objetivo de dá mobilidade aos Les Rouges que tinha 45% de posse contra 55% do Brasil. Com o tempo passando e a seleção brasileira administrando o resultado, com ambas equipes nitidamente cansadas, os técnicos fizeram suas duas últimas substituições. Na equipe brasileira, entraram Bruno Paulista e Erik, saíram Barreto e Luciano, respectivamente. Já na anfitriã, entraram Aparicio e Edward, saíram Gagnon-Laparé e Béland-Goyette.

Com as entradas de Edward e Aparicio, Babouli passou a atuar como um falso 9 à frente da  linha de quatro do meio-campo composta por Fisk aberto pela direita, Aparicio e Boakai centralizados e Edward à esquerda, e foi por lá e com ele que o Brasil quase sofreu o segundo gol. Mesmo com sustos e falhas defensivas que precisam ser corrigidas, a seleção verde-amarela que terminou com 56% de posse de bola e 20 finalizações, 12 no alvo, foi muito superior e o diferencial não foi só a qualidade técnica, foi a coletividade apresentada. Ainda deu tempo de Erik, atacante do Goiás, fechar a conta, com um belo gol de cabeça, após uma linda assistência de Dodô, que passou a atuar aberto pelo flanco direito na linha intermédiaria de ataque do 4-2-3-1 após a saída de Luciano.




Por: José Victor
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