domingo, 2 de julho de 2017

Os conceitos gerais e fundamentais do jogo de posição/posicional

Umas das coisas mais debatidas no meio da análise de jogo vem sendo o jogo posicional. O que é finalmente o jogo de posição? É , basicamente, uma ideia-mãe que rege todo o jogo de uma equipe. Contudo, é sempre bom lembrar que conforme as ideias de cada treinador que o utiliza como ideia-mãe, alguns conceitos podem ou não ser inseridos e outros retirados ou apenas cair em importância. Por exemplo, uma coisa é o modelo de jogo de posição do Josep Guardiola e outra coisa é o de Thomas Tuchel. É a mesma coisa, só que diferente. Porém, existem conceitos gerais/fundamentais presentes em todos os modelos de jogo de posição, ou seja, aqueles primordiais pra existência ou não do mesmo, tudo aquilo que é "obrigatório" dentro desse jogar. Vou citar 10, vamos a eles:

 1 = Gerar superioridade numérica e, principalmente, posicional desde lá de trás, desde o goleiro. Gerando um efeito-dominó de vantagens. 

2 = Gerar e ativar homens livres nas costas das linhas de pressão. Jogadores fora do campo visual da linha rival que pressiona o companheiro com a bola, distantes da oposição e girados ou prestes a girar, facilitando a recepção orientada. Ou seja, com grande probabilidade de gerar novas coisas e fazer o time progredir no terreno, superando linhas de pressão. Podem ser gerados de diversas formas, entre elas:

- Através de falsos movimentos de desmarques de apoio ou ruptura, ou seja, aqueles movimentos em que a intenção não é a recepção própria, mas sim de arrastar rivais e habilitar companheiros.

- Fixações horizontais (amplitude) e verticais (profundidade interior)

- Conduções para atrair rivais e liberar companheiros desde lá de trás, desde a 1a fase de construção

3 = Amplitude é primordial, seja com centrais, laterais ou com extremos. Uma boa amplitude e profundidade exterior ajuda a abrir a estrutura defensiva rival, ao fixar rivais na banda e ampliar os intervalos entre os jogadores de uma mesma linha, gerando espaços interiores e, consequentemente, homens livres. 

4 = Formação de triângulos e losangos/rombos de passe, primordiais para a progressão no terreno de jogo de forma apoiada. 

5 = Conceito de terceiro homem (tercer hombre). Quando um jogador com a bola busca ativar companheiros pretendidos - com linha de passe fechada por um rival - de forma "indireta", ou seja, utilizando-se do apoio de outro companheiro (que geralmente deixa de cara para abrir) para aí sim ativar o companheiro pretendido (3o homem) de frente pro jogo e com melhores condições de fazer o time progredir. 

6 = Escalonamento ofensivo é primordial. E esse conceito desconhecido pela maioria passa basicamente pela ocupação de diferentes alturas, distâncias e eixos por parte dos jogadores. Ou seja, jogadores devem ficar espalhados por todo o campo, uns mais próximos e outros mais distantes (sendo de fundamental importância para estes respeitarem a posição, saberem jogar sem intervir diretamente na região da bola e com a certeza de que a bola chegará em algum momento), facilitando assim a formação de triângulos e losangos e, consequentemente, a conexão com o terceiro homem e o homem livre. É assim que se consegue uma ocupação racional dos espaços. 

7= É de fundamental importância os jogadores entenderem o quando passar e o quando conduzir, o quando tocar e passar (toco y me voy) e o quando tocar e ficar (toco y me quedo). No Barcelona, por exemplo, é uma das maiores dificuldades das novas contratações e uma das coisas mais trabalhadas na La Masia (categorias de base do Barça, uma fábrica de craques, o que não é por acaso).

8 = É de fundamental importância utilizar a posse de bola como uma ferramenta de isca pra mover o rival: juntando companheiros no lado forte, somando passes, atraindo rivais para um lado ou para o centro e castigando-os no lado fraco (ativando jogadores desequilibrantes em situações de 1x1 na banda), nas zonas livres de oposição. Ou seja, a posse como uma ferramenta para desestabilizar/desordenar o rival e, portanto, ordenar a sua própria equipe, fazendo-os jogarem a mercê da própria equipe e não como eles desejam. Criar um caos defensivo no rival! 

9 = É de fundamental importância a equipe se comportar como uma unidade, ou seja, o conceito de viajar juntos: a equipe, os jogadores, a bola e AS POSIÇÕES. 

10 = Como consequência do conceito anterior (é um efeito-dominó de conceitos, onde um vai fazendo o outro acontecer), nota-se a importância da pressão pós-perda no jogo de posição. Afinal, todo treinador que utiliza o jogo de posição pensa que a melhor forma de se defender é atacando. Para isso, é imprescindível pressionar e recuperar a bola nos microsegundos imediatamente posteriores à perda da bola, algo que se torna mais fácil com o jogo de posição, já que todos viajam juntos, e quando perdem a pelota, a equipe se encontrará junta, podendo realizar um pressing pós-perda mais eficiente, matando contra-ataques rivais desde a raiz e roubando, muitas vezes, no campo inimigo, ou seja, próximo do gol.

Com tudo isso, fica claro que o tiki-taka até existe, mas que não tem nada a ver com o jogo de posição de Guardiola (que odeia esse termo tão vinculado a ele) e de todos os outros que o utilizam. Tiki-taka é passar por passar, sem nenhum objetivo por trás. Já no jogo de posição, as equipes tocam pra eliminar rivais, superar linhas de pressão, movê-los, encontrar homens livres nas costas de quem pressiona até fazer o gol. Tudo fruto de uma metodologia de treinamento global, não apenas por achar bonito, não é algo romântico, eles utilizam o jogo de posição porque acreditam que é a melhor forma de vencer.

Por: José Victor de Lima Soares (@josevitor83)
Contato: 81995753049

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Fanpage: um pouco de como atacou o São Paulo de Bauza contra o César Vallejo lá no Peru



Texto publicado no dia 5 de fevereiro na fanpage do blog Padrão Tático

Por: José Victor de Lima Soares
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Edgardo Bauza mal tinha sido apresentado no São Paulo e já se iniciavam os rótulos: ''técnico conservador'', ''retranqueiro''... Mas entender o jogo que é bom... NADA!
E o que mais chamou a atenção, mesmo ainda sem 1 mês de trabalho (amanhã completará 1 mês), foi os ATAQUES (ele não era retranqueiro?) posicionais da equipe. Já é possível observar algumas das ideias de Edgardo sendo aplicadas no São Paulo, como, por exemplo, os conceitos de ''tercer hombre'' (terceiro homem) e ''hombre libre'' (homem livre), pouco falados e estudados aqui no Brasil.
Abaixo, você poderá observar uma sequência de 5 imagens de um dos ataques posicionais da equipe: começando lá atrás - Bauza sempre buscará como primeira opção para a saída o passe interior - com a saída lavolpiana (que não foi um padrão, mas que pode se tornar um com mais tempo pra treinar) - o padrão foi Hudson buscar mais se posicionar nas costas da primeira linha de pressão rival, o chamado mediocentro posicional lá na Espanha - e terminando com o passe em profundidade de Ganso, que recebeu totalmente livre após um grande trabalho coletivo e diversos movimentos planejados e executados.






As 2 imagens abaixo do SP mostram a pequena diferença entre os conceitos de "lado forte e lado fraco" e "atrair por dentro e sair por fora". Note que: na primeira imagem, a equipe atrai atráves de apoios o César Vallejo mais pro lado esquerdo e tem como opção Bruno aberto no outro lado, é o conceito de lado forte e lado fraco, na qual o rival ocupa DUAS faixas (no caso, esquerda e central) e deixa vazio o lado oposto; na segunda imagem, o São Paulo combina por dentro com 4 jogadores - inclusive com os extremos Centurión e Michel Bastos -, atrai 8 rivais pra essa (UMA) faixa do campo e dá amplitude profunda com os laterais nas zonas mortas do campo - os dois lados, não só um - para sair por fora com eles. Entendeu a pequena diferença?



Este que escreve fará uma análise completa do São Paulo de Edgardo Bauza no futuro (bem próximo), não só sobre a organização ofensiva, como as transições defensivas e ofensivas, a organização defensiva e as bolas paradas.


domingo, 29 de novembro de 2015

O primeiro gol do Barça contra a Real Sociedad: em uma só jogada, diversos princípios


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Curta e acompanhe as análises na fanpage: https://www.facebook.com/Padr%C3%A3o-T%C3%A1tico-1702843283331320/

O modelo de jogo é formado pelos princípios táticos, e uma equipe bem organizada tem os princípios definidos para cada momento e/ou situação de jogo. Como se ganha esses princípios? É simples: treinando. E o Barça tem tudo isso dito anteriormente. O time repete os seus movimentos, é a chamada coordenação.

Recentemente, publiquei na fanpage do blog, uma imagem da construção de jogo (I fase da organização ofensiva) da equipe diante do Real Madrid. Isso é um padrão da equipe. Observe a imagem e o post na fanpage: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1740804232868558&id=1702843283331320&pnref=story

Na imagem abaixo (4 em 1) do primeiro gol do Barça contra a Real Sociedad, na vitória por 4 a 0 no último sábado, pode-se observar muito mais sobre a organização ofensiva da equipe:

Reprodução: beIN Sports (amplie a imagem e observe bem)
Em uma só jogada, diversos princípios foram utilizados para se chegar ao principal objetivo de um jogo de futebol: o gol. Se a equipe treina bem, joga bem. E se aplica no jogo, é porque compreendeu a ideia do técnico no treino, ou seja, existe uma boa comunicação entre Luís Enrique e os jogadores. Trabalho coletivo forte da equipe favorece o impressionante talento lá na frente e vice-versa.

Em um futuro próximo, este que escreve fará uma análise completa sobre o Barcelona de Luís Enrique, analisando o comportamento da equipe em todos os momentos do jogo.

Por: José Victor de Lima Soares

domingo, 18 de outubro de 2015

O competente e organizado Corinthians de Tite


Texto originalmente escrito por mim lá no site Doentes Por Futebol. 

Por: José Victor
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72% – com 20 vitórias e apenas 4 derrotas em 31 jogos disputados – de aproveitamento de pura competência e organização: esse é o Corinthians de Tite. Líder do Brasileirão com muitos méritos, vem sendo seguido pelo Atlético-MG, time que enfrentará em jogo válido pela 33ª rodada, no Independência.

Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Final antecipada?
Só o futuro dirá.

Organização tática:

O sistema tático-base da equipe é o 4-1-4-1, geralmente com Ralf à frente da defesa e por trás de uma linha intermediária de ataque formada por Jadson pela direita, Elias e Renato Augusto pela faixa central e Malcom à esquerda, com Vágner Love mais à frente.

Sem a bola, o time não é apenas compacto, pois só compactação nao basta, é necessário muita intensidade e organização, e isso o Corinthians de Tite tem de sobra: 2 linhas de 4 muito próximas, com Ralf entre elas, utilizando a marcação por zona com pressão intensa sobre a bola, como na imagem abaixo. Portanto, todos têm como referência o espaço e a bola, algo essencial no futebol moderno.
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Reprodução: Premiere
Vale ressaltar que, o Corinthians sempre busca criar intensamente superioridade numérica no setor onde a bola está (no jogo) e fechar as linhas de passe do adversário com a bola, até recuperá-la – seja com desarmes ou forçando o erro de passe -, como mostra bem a imagem abaixo. Trabalho coletivo muito forte.
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Reprodução: Premiere
Em certos momentos, principalmente como mandante, a equipe adianta a linha intermediária pra pressionar intensamente junto a Vágner Love a saída de bola do adversário, com o simples e muito importante objetivo de roubar a bola próximo do gol ou forçar o chutão – como na imagem abaixo – facilitando o trabalho defensivo e prejudicando a organização ofensiva do adversário.
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Reprodução: Premiere
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O ataque começa na defesa:
O melhor ataque do Brasileirão (57 gols) começa na defesa, com Renato Augusto recuando, como na imagem abaixo, para qualificar e agilizar a saída de bola, um – por vezes, os dois – dos meias-extremos (Jadson e Malcom) buscando o centro pra criar linhas de passe verticais e Elias muitas vezes buscando se projetar ao campo de ataque. Essas movimentações se repetem diversas vezes, é a coordenação dos movimentos, que já foi citada por Tite em entrevistas.
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Reprodução: Premiere
“Intensidade só é feita sem a posse, com a posse, não dá, pois com ela é necessário coordenação dos movimentos” – ressaltou Tite, em entrevista ao SporTV, minutos antes do início do clássico contra o Santos pelo Brasileirão, jogo no qual o time venceu por 2 a 0, no dia 20 de setembro. Dito e feito.
Entretanto, como também mostra a imagem acima, o time tem um problema na saída de bola: Ralf.
Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Ele é quase sempre peça nula, pois fica parado e não procura dar opção de passe e, quando recebe a bola, não possui passe qualificado pra fazer o time progredir no campo de jogo. Volante que só joga sem a bola, não cabe mais no futebol moderno. 
Após a saída de bola, em poucos segundos o time já está no campo de ataque, e como na saída de bola, a equipe repete movimentos: Jadson – que abre o corredor pra Fágner, que avança – se une a Renato Augusto pelo centro pra preparar as jogadas ou até finalizar, Vágner Love fica de costas pra fazer o pivô ou gira pra finalizar, Elias busca a projeção e/ou tabelas e triangulações – não é só ele, o time busca sempre fazer triangulações em todo o campo – com os camisas 8 e 10 e Malcom busca a penetração na área, como na imagem abaixo.
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Reprodução: Premiere
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É Jadson – o camisa 10 – que arma o jogo?

Não. É a equipe, ao trabalhar muito bem coletivamente e fazer diversos momentos simultaneamente. Tudo pensado, treinado e aplicado por Tite, com o fundamental trabalho do departamento de análise de desempenho, um dos melhores do Brasil.
A equipe não só constrói bem o jogo como também sabe jogar bem na base da reação ao adversário, o famoso contra-ataque, buscando definir rapidamente as jogadas, ora com troca rápida de passes curtos e ora invertendo o lado da jogada pra depois cruzar na área, quase sempre com vários jogadores entrando nela, sejam penetrando em diagonal ou pelo meio.
Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Foto: © Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians
Na imprensa (em grande maioria dela), fala-se mais sobre erros de arbitragem – que realmente é ridícula, algo até esperado já que eles não são profissionais – do que do desempenho tático da equipe, mas Tite merece muitos elogios pelo seu trabalho no Corinthians, e ainda mais por ter estudado e buscado conhecimento mesmo após ter sido campeão mundial pelo próprio clube. Se o time terminará o Brasileirão como campeão, só o futuro dirá, mas o certo é que Adenor está de parabéns pelo ótimo trabalho tático à frente do Timão



sábado, 5 de setembro de 2015

Os torcedores e, principalmente, a imprensa esportiva precisam quebrar os conceitos arcaicos do futebol brasileiro - os técnicos também devem se atualizar


No dia 8 de julho de 2014, aconteceu uma épica vitória da Alemanha por 7 a 1 diante do Brasil em pleno Mineirão lotado numa semifinal de Copa do Mundo, desde então fala-se muito em uma renovação do futebol brasileiro, apenas fala-se, pois na prática pouco ou quase nada mudou, não só na CBF, mas também nos pensamentos de alguns torcedores (em grande maioria) e, principalmente, da imprensa esportiva (em grande maioria), que poderiam ser os responsáveis por disseminar o fim de alguns conceitos arcaicos do futebol brasileiro.

Meu time é fraco tecnicamente, precisamos ter humildade e colocar volantes ''brucutus'' para dar uma maior segurança defensiva pra equipe...

Esse pensamento acima é muito antigo e errado. Ter 1, 2 ou 3 ''volantes brucutus'' não ajuda a equipe, na verdade prejudica ainda mais. Se uma equipe é muito compacta - como na imagem abaixo - e busca sempre a criação de superioridade numérica e fechar as linhas de passe, como na segunda imagem abaixo, o adversário não terá tempo (para pensar) e espaço (para executar o passe ou a finalização) e acabará errando o passe, ou seja, não é necessário um ''brucutu' pra roubar a bola.

Reprodução: Rede Bandeirantes

Reprodução: SporTV/ Premiere
No futebol moderno, a saída de bola qualificada pelo centro do campo é primordial. A lógica é simples: pelo centro do campo, existem várias opções de passe para o jogador que está com a bola, inclusive, os jogadores nas beiradas do campo, mas não adianta apenas ter opções, o jogador que está com ela (normalmente na saída é um volante) precisa ter passe qualificado para o jogo da equipe ter progressão vertical.

Centroavante só serve pra fazer gol...


Não existe centroavante que só serve pra fazer gol, pois se existisse a cada toque na bola, ele fazia 1 gol e, infelizmente, esse jogador ainda não nasceu. O centroavante Grafite, que recentemente voltou ao Santa Cruz, aprendeu no futebol europeu que a defesa começa no ataque e, atualmente, é um erro dizer que ele joga só com a bola - a imagem abaixo exemplifica isso. O centroavante também deve participar da fase defensiva, e não ficar ''paradão'' lá na frente.

Reprodução: Premiere
Outra contribuição importante de um centroavante, que geralmente são altos, é o trabalho de pivô: ao sair da área pra fazer o pivô, o centroavante geralmente - contra times que fazem encaixes individuais, que infelizmente ainda é muito comum no Brasil - atrai um marcador e, consequentemente, cria espaços para os companheiros aproveitarem, como no lance abaixo.

Reprodução: Premiere
O lateral-esquerdo está sempre livre pela esquerda e o time todo na direita, que time desorganizado...

Essa frase acima está errada: o time não está desorganizado, na verdade está organizado, pois está executando com primazia o balanço defensivo - movimento das linhas de uma lado para o outro conforme a circulação da bola-, conceito essencial da marcação por zona. Neste caso, a referência dos jogadores é o espaço e a bola, não o individual. Já o jogador livre não receberá a bola, pois a equipe fechará as linhas de passe do adversário com a bola. Isso precisa ser disseminado pela imprensa.

Nosso time precisa urgentemente de um camisa 10 pra armar o jogo...


Esse pensamento acima é dito e escrito por muitos torcedores daqui do Brasil, mas é errado, mesmo com alguns jornalistas (não são todos) dizendo que uma determinada equipe precisa contratar um armador. Armar o jogo não depende de camisa 10, mas sim de mecanismos coletivos e modernos, como a saída lavolpiana ou saída de 3, com um volante afundando entre os zagueiros (que abrem), os laterais avançando para dá amplitude, e os meias e/ou atacantes se movimentando e aproximando-se dos zagueiros e volantes em busca de criar linhas de passe.

Pegarei dois exemplos de times brasileiros já analisados por este blog: o Grêmio de Roger Machado e o Sport de Eduardo Baptista. Observem nas imagens abaixo: a construção de jogo começa lá na defesa, com mecanismos coletivos e modernos, sem depender de camisa 10.

Reprodução: SporTV/Premiere
Reprodução: Rede Bandeirantes

Nosso time está muito defensivo, precisamos atuar no 4-3-3...

Sistemas ou esquemas táticos não são sinônimos de estratégia. Em uma partida de futebol, ambos os times podem atuar com o mesmo sistema tático, mas com estratégias totalmente diferentes. Exemplo: duas equipes se enfrentam e atuam no 4-3-3, uma das equipes propõe o jogo, com linhas adiantadas, buscando valorizar a posse de bola com toques curtos e rápidos, enquanto que, a outra equipe busca explorar os contra-ataques, marcando a partir de seu próprio campo e, por vezes, busca acionar os pontas com lançamentos longos.

A falta de informação na imprensa esportiva brasileira é muito prejudicial pro futebol brasileiro, pois sem a informação correta sobre determinados assuntos do jogo, gera-se interpretações e, consequentemente, críticas a técnicos mesmo sem o menor entendimento do jogo, e os dirigentes que em grande maioria contratam técnicos sem convicção, acabam demitindo por pura pressão de torcedores, sem planejamento algum. 

O futebol brasileiro dentro de campo mostra uma boa evolução tática, mas só isso não adianta, é necessário uma evolução no pensamento do torcedor, da imprensa, dos dirigentes e de alguns técnicos, que precisam estudar e buscar conhecimento e não viver do passado, já que quem vive de passado é museu. O futebol evolui a cada dia, o Brasil não pode ficar pra trás.


Por: José Victor
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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A filosofia tática de Roger Machado, que aplica os seus modernos conceitos de jogo no Grêmio, terceiro colocado do Brasileirão


O técnico do Grêmio e ex-jogador Roger Machado, 40 anos, é graduado em educação física, além de ter feito curso de gestão esportiva e participado do Fórum Internacional de Futebol (Footecon) por dois anos, em resumo: estudou e buscou conhecimento, com um importante incentivo de Augusta, sua mãe, e uma contribuição de Tite, atual técnico do Corinthians, que era seu técnico no próprio Grêmio em 2001/2003.

''A busca pelo conhecimento é algo constante para mim. Foi algo que foi fomentado desde muito cedo. Minha mãe de criação me ensinou que sempre temos que buscar conhecimento, porque conhecimento ninguém te toma, a não ser que corte tua cabeça fora. E isso eu passo para as minhas filhas também'' – destacou o treinador, em entrevista ao LANCE!.

Em uma entrevista recente, Roger ressaltou que alterou a estrutura da equipe, acrescentou os seus conceitos de jogo e fez a equipe jogar de uma maneira que representa a sua forma de vê o futebol e, na mesma entrevista, afirmou: ''tomo decisões em prol do coletivo''. Isso dito por ele, exemplifica o que é o Grêmio: um time que aplica os modernos conceitos de jogo do seu técnico e que prioriza o trabalho coletivo para favorecer o talento individual de alguns jogadores e vice-versa.

O sistema tático-base da equipe é o 4-2-3-1, com Walace e Maicon à frente da defesa e por trás de uma linha intermediária de ataque formada por Giuliano pela direita, Douglas pela faixa central e Pedro Rocha à esquerda, com Luan - o falso 9 - à frente.


Sem a bola, a equipe alterna entre executar a marcação pressão com o quarteto ofensivo na saída de bola do oponente ou se fechar com duas linhas de quatro muito compactas, com Douglas e Luan à frente da segunda linha, como no flagrante tático abaixo. No Grêmio de Roger: todos participam ativamente da fase defensiva, algo que exige um trabalho coletivo muito forte e que facilita o trabalho de encurtar/tirar os espaços do oponente.

Reprodução: SporTV/Premiere
Ao perder a bola, o chamado momento pós-perda (essencial para a transição defensiva), a equipe busca imediatamente recuperá-la, criando intensamente a superioridade numérica e fechando as linhas de passe, como na imagem abaixo, algo muito importante no futebol (não só no atual), pois mesmo se não tiver sucesso na recuperação, o passe do adversário será quebrado e, consequentemente, a organização ofensiva ficará prejudicada, facilitando o trabalho defensivo.

Reprodução: SporTV/Premiere
Na saída de bola, os zagueiros abrem, Walace ou Maicon - segundo melhor passador do Brasileirão, com 1015 passes certos e o melhor do time nesse fundamento - afunda entre eles, os laterais avançam para dá amplitude, os meias e/ou atacantes se movimentam e aproximam-se dos zagueiros e volantes: o time constrói o jogo - como no lance abaixo - com qualidade e movimentação desde lá de trás, quase sempre executando a saída de 3 ou saída lavolpiana. Mecanismo coletivo e moderno.

Reprodução: SporTV/Premiere

Roger disse que o futebol não deixa de ser uma forma mais complexa das rodas de bobinho, só que móvel: o Grêmio aplica isso dentro de campo, a transição entre defesa e ataque é muito rápida, os jogadores se movimentam e aproximam-se para trocar passes curtos e rápidos com triangulações pela faixa central e/ou pelas beiradas, atraindo a marcação e criando espaços, fazendo o adversário ser o bobinho em campo, como no lance abaixo.

Reprodução: SporTV/Premiere
— Sabem aquelas rodas de bobinho em que os jogadores fazem antes dos treinos? O futebol não deixa de ser uma forma mais complexa daquilo ali, um grande "bobo móvel". E eu tenho que enganar o adversário — exemplificou Roger, no programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha. Dito e feito.

Na mesma entrevista, Roger ressaltou que busca a aproximação dos jogadores pelo meio, mas ao mesmo tempo procura criar profundidade pelos lados, para abrir o jogo e depois cruzar na área, com os jogadores que trabalharam a bola pelo meio infiltrando-se na área, como no lance abaixo.

Reprodução: ESPN.com.br
— Precisamos desta aproximação pelo meio, mas com criação de profundidade pelos lados. Abrir o jogo para depois avançar pelo centro de novo. Neste caso, o mais importante é quantos jogadores chegam dentro da área. Tem um amigo meu que diz: "se o futebol fosse só pelos lados, o gol não era no meio" — ressaltou Roger, no programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha. Novamente, dito e feito.

Vale ressaltar que, uma das grandes diferenças do Grêmio de Felipão para o de Roger, é que agora a equipe treina menos, mas melhor e mais forte. Se a equipe treina bem, joga bem. Se a equipe compreende a ideia do técnico no treino, aplica no jogo. Se treina intensamente, joga intensamente. Em resumo: tudo que o Grêmio faz em campo, foi pensado e treinado por Roger.

Estatísticas: Footstats

Por: José Victor
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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Sport de Eduardo Baptista é muito organizado, moderno, móvel e coletivo - parabéns a Eduardo Baptista e a diretoria do clube


O Sport de 2015 colhe o que plantou em 2014, com planejamento a longo prazo, a diretoria manteve o técnico Eduardo Baptista, mesmo com duas ''crises'' nesse período, e qualificou pontualmente o elenco conforme as necessidades. Vale ressaltar que, a diretoria raramente atrasa os salários, facilitando a contratação de bons jogadores.

O sistema tático-base da equipe é o 4-2-3-1, com mudanças de jogadores de acordo com as características do adversário, geralmente, o time atua com Rithely e Wendel à frente da defesa e por trás de uma linha intermediária de ataque formada por Maikon Leite (que estava lesionado, com Élber no seu lugar) pela direita, Diego Souza pela faixa central e Marlone à esquerda, com André à frente.

Sport atua no 4-2-3-1, com variação constante para o 4-4-2 na fase defensiva.
Sem a bola, o Sport se fecha - como na imagem abaixo - no 4-4-2 em linhas, utilizando os conceitos - alguns modernos - que são necessários para o sucesso do esquema e, consequentemente, do time: compactação e estreitamento das linhas, marcação por zona com pressão sobre a bola, jogadores (laterais e pontas) com vigor para atacar e defender com a mesma intensidade pelos lados e a ótima execução do balanço defensivo - movimento das linhas de um lado para o outro conforme a circulação da bola.

Reprodução: Rede Bandeirantes
Vale ressaltar que, a equipe sempre busca intensamente, como é possível observar no flagrante tático abaixo, a criação da superiodade numérica onde a bola está (no jogo) e fechar as linhas de passe do jogador que está com a bola. Ao criar superioridade, a equipe encurta o tempo (para pensar) e o espaço (para executar o passe) do jogador adversário. Isso exige um trabalho coletivo forte e disciplina tática da equipe.

Reprodução: Rede Bandeirantes
Ao subir um pouco a pressão da marcação na saída de bola do oponente, como no lance abaixo, a equipe demonstra ter uma falha: a linha defensiva não acompanha a subida de pressão da linha de 4 do meio-campo, deixando um espaço vazio entre a defesa e o meio e, se a equipe não executar com primazia essa pressão, o oponente poderá atacar esse espaço vazio entre as linhas.

Reprodução: Rede Bandeirantes
Na saída de bola, o volante - geralmente, Rithely - afunda entre os zagueiros (que abrem), os laterais avançam para dá amplitude e o time constrói o jogo com qualidade (pelo centro do campo) lá de trás, como no lance abaixo, não só pelo passe qualificado de Rithely (o melhor passador e ladrão de bolas do time no Brasileirão, com 727 passes certos e 58 roubadas de bola), mas também pela aproximação dos meias e/ou atacantes e pela movimentação na saída. Novamente, conceito de jogo moderno no Sport.

Reprodução: Rede Bandeirantes
Após a saída de bola, a equipe chega no campo de ataque, como no lance abaixo, onde busca sempre atacar com no mínimo 7 jogadores, os laterais e/ou meias-extremos ''alargam'' o campo, os volantes aparecem para distribuir o jogo, com opções de passes à frente da linha da bola e, consequentemente, a equipe tem progressão vertical, amplitude e profundidade.

Reprodução: Premiere

Em 2014, o time sofreu muito com um problema: propor o jogo. Em 2015, esse problema foi muito reduzido, com a equipe buscando a troca inteligente de passes curtos e rápidos, com jogadores próximos - formando triângulos, como na imagem abaixo, facilitando a troca limpa e vertical de passes - e buscando a infiltração e/ou diagonal dos meias-atacantes - que buscam se movimentar no terço final do campo (até André, tido por muitos como lento e preguiçoso, participa ativamente do jogo) e, consequentemente, abrem espaços.

Reprodução: Rede Bandeirantes
A equipe, ao roubar a bola no campo de ataque, busca definir rapidamente as jogadas nos contra-ataques, ora buscando explorar a velocidade e o vigor dos laterais e/ou pontas pelos lados para depois cruzar na área e ora com jogadores próximos, buscando tabelas e/ou triangulações para infiltrar na área. Tudo pensado, treinado e executado pelo Sport do ótimo Eduardo Baptista.

Invicto, como mandante, o time leonino tem um campanha ''ruim'' como visitante, mas ela pode ser explicada (apenas pode) por alguns fatores: pressão da torcida adversária; o desgaste físico, pois o Sport é o único time do Norde-Nordeste no Brasileirão de 2015 e, consequentemente, é o que mais viaja nos jogos fora de casa; por último, a falta de eficiência nas finalizações e depois acaba perdendo pontos cruciais, levando o empate e/ou a virada.

O Sport brigar pelo G4, não é zebra ou utopia, mas é a consequência do planejamento a longo prazo, o que irá acontecer até o final do campeonato brasileiro é imprevisível, o certo é que a diretoria rubro-negra e o técnico Eduardo Baptista estão de parabéns.


Estatísticas: Footstats

Por: José Victor
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